Migração do Saneamento

Artigo publicado em 02/01/2023 por Yves Besse.
A COP27 trouxe ao debate o impacto da migração climática sobre as pessoas. Em 2021, 60 milhões de pessoas migraram. Até 2050, serão de 200 milhões a 1,2 bilhão, a grande maioria delas de baixa renda.
Surge, com isso, um desafio adicional: a gestão da migração para diminuir seu impacto sobre pessoas e países. E qual a primeira conclusão a que chegamos? Vamos lidar com o “no place to run” – não há mais para onde fugir.
Como em tantas situações, vem a mesma constatação: ações preventivas gerariam custos econômicos, sociais e ambientais muito menores. Porém, um custo político alto. Recaímos entre o belo e falso discurso politicamente correto e o duro e verdadeiro discurso que choca, mas enfrenta a realidade.
Vivemos esse paradoxo há décadas no saneamento: todos sabem que saneamento é saúde preventiva, com um gigantesco impacto positivo social, ambiental e econômico. Mas essa tomada de consciência ainda não trouxe velocidade à solução.
Nos últimos 25 anos, enfrentamos, com longos e tortuosos caminhos, a dura e feia realidade. Obtivemos as primeiras mudanças em 2007, com a lei das diretrizes nacionais, e as revisamos e atualizamos em 2020, com o novo marco legal.
Resultados começaram a aparecer, mas velhos e belos discursos voltam a nos assombrar. Não dá para entender como os líderes que vão à COP27 defender a inserção social e promoção do meio ambiente não percebem o mal proporcionado pelo retrocesso no saneamento.
Vamos nos indignar e não deixar que migrações políticas causem migrações negativas para o saneamento. Não há para onde fugir (“no place to run”) com a migração climática. E não há espaço para mudança (“no place to change”) para a migração do saneamento. Temos de pensar no Brasil que queremos a partir de 2023.