Notícia 2 anos atrás

O que os olhos não veem o coração precisa sentir urgentemente

Pensei muito sobre este artigo que escrevo como uma pequena reflexão no Dia Mundial da Água. Estava claro que eu queria sensibilizar para a importância da água através do saneamento básico, e a palavra “coração” não saía da minha cabeça.

Mas o que o coração tem a ver com o saneamento básico? Para mim, é a chave para a solução da triste realidade que vivemos nesse setor no Brasil, o que nos faz ocupar a 112ª posição no ranking mundial do saneamento e, ao mesmo tempo, ser o país com mais água doce do mundo.

Inicialmente, vamos aos fatos. São mais de 35 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada e 100 milhões sem coleta de esgoto, quase metade da população do País. É como se toda a população do Canadá não tivesse acesso à água potável e duas Argentinas vivessem sem esgoto tratado.

O Brasil perde o equivalente a 7.500 piscinas olímpicas de água tratada diariamente. As perdas estão aumentando ano a ano. O simples combate às perdas físicas na distribuição da água poderia abastecer mais de 63 milhões de brasileiros em 1 ano (30% da população e quase o dobro daqueles que hoje não têm acesso à água tratada).

Estamos nessa situação porque mais de 90% do saneamento brasileiro está nas mãos de empresas públicas, estaduais e municipais, há mais de 50 anos. Falta dinheiro para investir. Falta gestão. Falta comprometimento real para solucionar o problema.

Por outro lado, há evidências que mostram que uma parcela importante da população não dá o devido valor ao serviço e que, se tivesse rede de esgoto passando em suas casas, não gostaria de pagar por tal. Se há água chegando em suas casas, nem o mero afastamento do esgoto é fator relevante. Claro que a falta de educação é um fator preponderante nessa visão, mas percebemos que, mesmo em uma parcela mais escolarizada, esse raciocínio predomina. Aqui o coração começa a entrar de uma maneira triste e retratando o famoso ditado popular: “O que os olhos não veem o coração não sente”.

Apesar dos avanços evidentes da Nova Lei de Saneamento, de julho de 2020, que trouxe uma série de novas determinações que tendem a tirar os prestadores públicos da zona de conforto na qual se encontravam, ainda estamos vendo recorrentemente tentativas de aplicações de fórmulas antigas para a obtenção de novos resultados.

Vivemos há anos uma crise de consciência mundial, o que não é diferente para o saneamento no Brasil. E não estou falando de uma crise de consciência política somente, que não se dedica de maneira séria e assertiva à universalização dos serviços de saneamento, mas uma crise generalizada como seres humanos, que transcende o assunto aqui em questão.

Está na hora de nos conectarmos como seres humanos e não a cargos políticos, funções corporativas e cidadãos que vivem em suas próprias bolhas “se enganando” que tudo na vida não está interligado.

Precisamos encarar de frente o problema. Sem uma visão sistêmica, não haverá evolução. Ninguém sozinho será capaz de transformar. Público e privado, sociedade civil, academia, organizações não governamentais, financiadores, entre outros, devem unir forças. Concorrentes precisam ter a humildade de reconhecer que juntos podem ser mais fortes na busca de soluções efetivas. Consumidores devem ser mais responsáveis no consumo consciente da água e nos efeitos de seus atos perante terceiros. Enfim, cada um tem sua parte na solução.

Somente a conscientização mais ampla de todos e a conexão genuína pelo coração (como seres humanos) entre as diferentes partes relacionadas é que mudarão a realidade do saneamento brasileiro e, paralelamente, a da água como um recurso vital e um direito humano. O que os olhos não veem o coração precisa urgentemente sentir.

Daniela Pinho

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